Quem está morrendo?

Categoria: Destaque Publicado em Sábado, 21 Setembro 2013

Fico impressionado com a insistência de alguns Irmãos no tema "a maçonaria está morrendo". Na internet então... nem se fale!

Trata-se, evidentemente, de um comportamento que Freud, ou Jung, Lacan ou Adler poderiam explicar.

Adler diria que a preocupação contínua desses profetinhas é alcançar objetivos próprios - a sede de poder e a notoriedade. Outro componente dessa pregação é o complexo de inferioridade que, não resolvido, pode traduzir-se numa dinâmica patológica.

Lacan analisaria pelo aspecto do "Estádio do Espelho", ilusão ou alienação provocada pelo narcisismo. De fato, apesar do avental, há maçons que só conseguem ver o próprio umbigo.

Freud apontaria a patológica visão da morte da Maçonaria como a pulsão de "matar o pai"; um conflito havido no início da adolescência com a figura do pai transforma-se, mais tarde, no combate sistemático à autoridade e às instituições.

Finalmente, Jung buscaria o hábito nefasto de esses Irmãos prognosticarem a morte da viúva (a Maçonaria) como fixação na perda do arquétipo materno: o medo de serem desmamados pela instituição.

Deixando a psicologia de lado (pois essa não é minha área de formação, nem tenho o direito de diagnosticar comportamentos, citei apenas como ilustração) passemos à questão prática.

Uma instituição como a Maçonaria não tem como "morrer", pois a morte é a interrupção definitiva da vida de um organismo, mais propriamente o fim da vida humana.

Não se pode falar em morte da Matemática ou morte da Física; o que morre são os matemáticos e os físicos. Da mesma forma, o que morre na instituição são os obreiros, nunca a Maçonaria como reflexão humana, ponto de partida e o processo pelo qual as operações da consciência produzem novas ideias. Essa morte nem precisa ser física - basta que o maçom se afaste do senso crítico, da capacidade de examinar, avaliar e julgar com sabedoria e independência, para ele se encontra morto - só esquecido de deitar-se.

Quem está morrendo?

- Está morrendo o maçom que vai à Loja, mas não frequenta a Loja. Frequentar significa viver na intimidade, cursar, estudar, seguir, conviver entre pessoas com o devido trato social. Frequentar é apresentar novas ideias e trabalhar para os projetos já existentes, garantindo assim uma Maçonaria de longo prazo.

- Estão morrendo a Loja ou os maçons desligados da vida da Potência a que pertençam. A interrupção definitiva dessas vidas começa pela surdez do que se fala ou lê nas sessões: a Ata, as instruções, as peças de arquitetura, os Atos e Decretos do Grão-Mestrado, os Projetos de Lei enviados para a apreciação dos Irmãos, os balanços e balancetes. É comum vermos um ou outro com a cabeça enterrada entre as mãos (postura não-maçônica) fingindo desinteresse ou mesmo... ou dormindo nesses períodos de análise, tomada de decisão e apresentação de propostas. Mais tarde, quando um Ato, Decreto ou Lei começam a produzir seus efeitos, os tais dorminhocos são os primeiros a erguer a voz nas sessões, a lançar imprecações contra tudo e contra todos. (Há também as conversas paralelas dos mortos-vivos durante a leitura de um trabalho, quando os maiorais da Loja conversam outros assuntos, certamente sobre futebol, na melhor das hipóteses!)

- Está morrendo o maçom que dilapida o precioso tempo de vida a maquinar intrigas, difamar pessoas e criticar os que trabalham e dão vida às instituições maçônicas. São aves de rapina que gozam do aparente prestígio nos grupinhos informais; adulados pela frente e sempre criticados pelas costas.

- Enfim: está morrendo o maçom ou a Loja que já nasceram inertes, pálidos e desbotados. São os extremamente exaustos do mínimo "serviço" que prestam à Loja durante duas horinhas semanais da sessão que antecede os comes e bebes.

Como ilustração, tomemos o capítulo 18 do Gênesis quando Abraão pergunta ao Senhor Deus sobre a destruição da cidade:

"Se porventura faltarem cinco justos dentre os cinquenta, destruirás toda a cidade por causa daqueles cinco?

E disse Deus: - Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco.
E continuou Abrão: Se porventura se acharem ali apenas quarenta justos?  

E Deus disse: Não destruirei a cidade por amor dos quarenta.
Mas Abrão insistiu: Não se ire o Senhor, se eu ainda perguntar: Se porventura se acharem ali trinta?

Deus disse: Não o farei se encontrar ali apenas trinta.
E se porventura, Senhor, se acharem ali vinte?

E Deus: Não a destruirei por amor dos vinte.
Mas Abraão não se conteve e foi além: Não se ire o Senhor, que ainda falo só mais esta vez: Se porventura se acharem ali dez?

E Deus, pacientemente respondeu: Não a destruirei por amor dos dez."

Assim é; e assim será: se porventura permanecerem trabalhando apenas sete, a Maçonaria não será destruída por amor dos sete.

José Maurício Guimarães

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