Maçônaria Comteporânea Abordagem Histórica
Se abordarmos a história da Maçonaria Contemporânea, sem perquirir a respeito de suas origens, não poderemos chegar a um consenso analítico razoável.
O homem das cavernas, talvez mesmo antes de dominar o fogo e a linguagem, inicialmente solitário e agressivo, por uma questão de necessidade e de sobrevivência, tornou-se um ser gregário, pois querendo ou não, sempre dependeu da cooperação dos demais componentes de suas tribos ou clãs. Deixando as cavernas tornou-se nômade para depois tornar-se sedentário se agrupando com os demais seres humanos que o cercavam em pequenos vilarejos, vilas cidades, metrópoles etc. Para construir os locais onde pudesse habitar apareceu no decorrer do tempo quem os construísse, surgindo desta forma, os primeiros profissionais ainda que rudimentares dedicados à construção.
Se formos abordar o complexo e intrincado surgimento da Maçonaria no mundo, teremos que, em suas raízes destacar o importante papel das associações de construtores, bem como analisar como aconteceram os fatos sociais que deram origem à Maçonaria, e posteriormente ao cooperativismo sindicalismo entidades estas que pelo menos em fase inicial de sua existência teve muito em comum, ou seja, a necessidade consequente do trabalho para subsistir, do auxílio mútuo e cooperação, vindo daí a relação empregados/patrões; reis/súditos, escravos/senhores. Depois, dentro do seu próprio contexto histórico cada associação seguiu seu caminho quer no sindicalismo quer no cooperativismo.
Este fenômeno social de gregarismo se aplica a toda à humanidade, e é inerente ao ser vivo. Simplesmente é assim. Inicialmente havia cooperação e camaradagem, sintetizando mais um sentimento de agrupamento, para depois os grupos passarem a se organizar, em associações de defesa e proteção visando interesses mútuos, especialmente nas profissões, mas também em outras atividades.
Entretanto, é no estudo da história do Império Romano que nos vem maiores indícios da “pré-história” da Maçonaria Operativa. Numa Pompilio (714 a 67l) A C, rei de Roma, sempre citado na literatura maçônica, por ter construído vários templos inclusive o de Janus, criou os “collegia fabrorum” dos quais foram criados os “coleggia constructorum”. Deduz-se, segundo alguns autores, porem sem provas definitivas, que estes colégios foram as sementes das futuras Lojas Maçônicas Operativas, mas não da Maçonaria tal qual a conhecemos hoje (1). Numa Pompilio regulamentou a profissão de construtor, e também a organização dos cultos já que estes colégios eram impregnados de forte religiosidade ainda naquela época politeísta, repleta de deuses, e cita-se ainda que também sob seu reinado, Roma teria sido urbanizada e as construções tiveram um grande desenvolvimento.
Os “collegiati” no ano 65 a.C. teriam sido dissolvidos por um senatus consulto por apresentar uma ameaça ao patriciado romano. O trabalho dos “collegiati” também decaiu em função do trabalho escravo e a importação de produtos oriundos do vasto império romano. As legiões romanas nas suas conquistas destruíam tudo, mas levavam os “collegiati construtorum”, ou seja, os construtores, para reconstruir o que fosse destruído.
Entretanto, existem trabalhos de autores maçônicos que contestam a existência dos “collegia fabrorum”, bem como que Numa Pompilio teria sido rei de Roma, já que não existem fontes primárias que comprovem este fato. Todavia, se seguirmos as citações de outros autores maçônicos, estes “collegiati” teriam existido, eles teriam se espalhado por todos os territórios romanos, inclusive os conquistados, sendo que muitos desapareceram porem outros permaneceram e participaram da trajetória histórica na arte da construção em direção à Maçonaria Medieval.
Depois vieram os Mestres Comacinos (2) que surgiram em Como na Lombardia, que eram arquitetos construtores e hábeis escultores, sendo reconhecidos e regulamentados profissionalmente pelos reis longobardos pelo édito de Rotari em 634 d.C. e Liutprando em 713 d.C. Estes Mestres foram responsáveis pela Arte Romântica, que precedeu a Arte Gótica.
Já em plena Idade Média, antes de aparecer a Maçonaria Operativa ou Maçonaria de Ofício, entrando em evidência a Arte Gótica, quando começaram a serem construídos muitos conventos igrejas catedrais e palácios, neste período foram importantes as Associações Monásticas principalmente constituídas pelos Beneditinos e Cistercences, que eram clérigos, experientes projetistas e geômetras, excelentes oficiais na arte de construir. Dominaram o segredo da construção por muito tempo, o qual ficou inicialmente restrito aos conventos.
Diz-se que os termos “Venerável Mestre” e “Venerável Irmão” (3) já eram usados pelos abades do século VI, e que nós os maçons atuais, os emprestamos, aliás, como praticamente tudo na Maçonaria foi trazido de fora, isto é, copiado.
E assim os Monásticos com seus conhecimentos monopolizaram por longo tempo a arte de construir guardando para a sua Agremiação, os seus segredos.
Entretanto eram obrigados a contratar profissionais leigos, pois a demanda cada vez maior de construções e serviços secundários assim o exigia. Estes profissionais foram aprendendo com estes clérigos e com o tempo em face da decadência da fase Monástica, constituíram as Confrarias Leigas.
Ressalte-se que influência destes clérigos foi muito grande, pois infundiram ensinamentos importantes na arte de construir, bem como princípios religiosos nas escolas e oficinas de arquitetura. Sabe-se que cada Corporação de Construtores tinha o seu Santo padroeiro (4), isto na Maçonaria Operativa que era totalmente católica, a qual recebeu por esta razão forte influência do clero. Os Beneditinos (Ordem de São Bento fundada por São Bento em 529 D.C. e os Cistercences os monges de Císter- França (fundada em 1098 pelo abade De Molesme) são considerados por vários autores como os ancestrais da Maçonaria Operativa, (5)).
Seguindo-se o rumo da história, juntamente com as Ordens Militares e Religiosas, vieram as Guildas as quais influíram muito nas tradições maçônicas. As Guildas eram associações que surgiram no Norte da Europa e se estabeleceram principalmente na Inglaterra, Alemanha e Dinamarca e em outros países. Eram associações inicialmente religiosas, mas que a partir do século XII se constituíram em associações profissionais fraternas, verdadeiras confrarias de defesa de autoproteção de seus sócios.
Os novos participantes desta confraria eram obrigados a um juramento (6) além de pagar uma joia (7), coletavam dinheiro para auxílio mútuo, amparo às viúvas (8) e despesas funerárias.
Interessante frisar que a palavra Loja (9) surgiu pela primeira vez em um documento emitido por uma destas corporações em 1292 servia para designar o local de trabalho ou mesmo como sinônimo de Guilda. Não se dedicavam somente às construções.
Os componentes das Guildas reuniam-se em banquetes (10) e pleiteavam reformas políticas e sociais. Como estes costumes não eram bem vistos pela Igreja, e nem pelos reis, era comum elas adotarem nomes de monarcas ou de santos que consideravam como seu padroeiro ou patrono, para escapar a vigilância da Igreja e dos governantes.
No século XII, na Alemanha surgiu a Corporação dos Steinmetzer que eram conhecidos por serem escultores e entalhadores de pedras ou canteiros e que não se dedicavam exclusivamente á arte Gótica, porem trabalharam em muitas catedrais deste estilo de construção. O canteiro esquadreja e trabalha na escultura da pedra bruta.
Os Steinmetzer tomaram grande impulso através do seu famoso arquiteto Erwin, natural de Steinbach. Segundo alguns autores, não há a unanimidade, a Convenção de Estrasburgo, dos Canteiros foi convocada por ele em 1275 para terminar uma importante catedral em arenito rosa existente naquela cidade. A fachada é ornamentada até hoje, com lindas estátuas representando virtudes e vícios (virgens loucas e virgens prudentes). À Convenção compareceram os principais arquitetos ingleses, alemães e italianos e de outros países. Nesta Convenção foram adotados os sinais, palavras e toques usados para identificação secreta membros da Confraria, (11), diga-se de passagem, pela primeira vez, pelo menos pelo que está registrado oficialmente. É bem provável que outras Corporações usassem suas próprias senhas.
Ainda no século XII surgiu a Franco-Maçonaria ou Ofícios Francos, (12) a qual era constituída de pedreiros-livres ou franco-maçons e que deixaram a marca de sua influência de forma indelével na Maçonaria atual. Os franco-maçons puderam se dar totalmente à sua arte, pois eram trabalhadores privilegiados, porque estavam isentos de impostos, eram construtores categorizados, tinham livre trânsito, isto é, não ficavam presos numa mesma região à disposição de seu nobre senhor e alem disso eram muito respeitados e, além disso, não eram escravos. O termo franco significava liberdade total, livre de qualquer tipo de servidão ou compromisso, a não ser o de criar e construir.
Mais ou menos a partir do século XV nasceu na França um tipo de agremiação de operários cristãos itinerantes, a Corporação dos Companheiros (Compagnonnage) e que teria sido fundada pelos Cavaleiros Templários. Eles iam de cidade em cidade, solicitando trabalho e prestavam assistência mútua. Não era permitido ingresso na organização senão após um tempo de aprendizado e também eram recebidos através de um cerimonial. (13) Eles construíram no Oriente Médio durante as Cruzadas, fortificações, cidadelas, especialmente pontes e obras de defesa militar. Ao voltarem às suas pátrias, construíram obras civis, igrejas e catedrais. Estas organizações duraram muito tempo e desapareceram por completo no início do século XIX com nascimento da grande indústria e do sindicalismo.
Interessante que estas Corporações de Oficio se tornaram importantes em função da arte gótica que nasceu na França e se notabilizou na Alemanha e outros países e que durou cerca de trezentos anos. A Renascença viria e suas conseqüências se fizeram sentir tanto na arte gótica como no monopólio das Corporações das construções das fraternidades maçônicas operativas que dominavam as construções góticas, cujas edificações mais importantes, as catedrais, castelos e outras construções já estavam todas construídas. Já havia mais o que construir neste estilo.
Este fato ocasionou a decadência das Corporações e já no século XVII, podemos notar que o povo europeu já estava preferindo o estilo clássico romano que era mais alegre que o austero estilo gótico. Assim a arte da construção teve que sair das mãos dos franco-maçons e se tornar um apanágio de outros operários construtores que não faziam parte da Confraria. As Corporações que sempre foram de certa forma perseguidas por vários governos, agora o eram também até pela Inquisição. Os chamados régulos e também os Jesuítas não admitiam os segredos das Confrarias e das Agremiações Corporativas. Estas Corporações viriam com o tempo a serem dissolvidas.
Foi mais ou menos nesta fase da história que as fraternidades maçônicas operativas foram obrigadas a aceitar outras pessoas que não estavam ligadas construção, muito embora há muito já as estivessem aceitando.
O primeiro maçom “Aceito” que se têm provas foi John Boswel, que era um lorde e que ingressou numa Confraria em 08.06.1600 como maçom aceito, não profissional na Loja da Capela de Santa Maria em Edimburgo, na Escócia. Esta aceitação passou a ser comum, em virtude da decadência das corporações admitindo-se sábios, filósofos, naturalistas, artistas, antiquários, nobres, militares, comerciantes, escritores e pensadores marcando assim uma grande transformação na Ordem. Estes “Aceitos” trouxeram novas concepções e contribuições para as agremiações, porem a transformaram radicalmente. Inclusive, segundo alguns autores, os Rosacruzes foram os que mais contribuíram para a filosofia maçônica, já que muitos destes primeiros “Aceitos” eram Rosacruzes.
No início do século XX, mais precisamente em 1909 um escritor de nome Charles Bernadrin do Grande Oriente da França consultou 206 obras e selecionou 39 opiniões diferentes à respeito das origens da Maçonaria. Hoje é possível que o número de opiniões esteja aumentado. Alguns autores dão ênfase a uma possível origem da Maçonaria nos Templários. Entretanto está provado que foi uma tentativa do Cavaleiro de Ramsay que foi o idealizador desta teoria, talvez tentando dar uma procedência mais nobre à Ordem encobrindo desta forma, a origem humilde nos trabalhadores da construção. Ainda, até a presente data existem algumas Lojas Operativas na França.
A Maçonaria Operativa faz alusões aos Old Charges, cerca de l50 manuscritos antigos, os quais não fazem quaisquer referências a templos, aos hermetistas, templários, rosacruzes, não citam o sentido simbólico das ferramentas, não é citada a Bíblia, não se fala em ocultismo, esoterismo alquimia, cabala etc. Era uma maçonaria francamente católica.
As Lojas eram constituídas dos chamados “Maçom livre em Loja livre”. Estes documentos não citam os famosos landmarques, tais como os conhecemos hoje. Se lermos as mais variadas classificações de landmarques, as quais estimam em mais de sessenta, veremos que elas nada mais são que cópias dos estatutos das referidas Corporações, quer de Construtores quer das Guildas, cujos artigos foram copiados e adaptados à Maçonaria depois de 1717, tendo muito pouco a ver a nossa atual Maçonaria. Compulsando as cópias dos manuscritos inseridos nos Old Charges entre os quais o mais conhecido é o “Poema Régio”, sempre encontramos uma provável origem através de uma palavra, um sinal, um costume, uma cerimônia um objeto uma ferramenta que os maçons antigos usavam e que emprestamos para nós, e demos um simbolismo próprio.
Verdade seja dita, se analisarmos com cautela sem preconceitos e sem predisposições, veremos que a Maçonaria Operativa tem menos a ver com a Maçonaria Moderna ou Especulativa, do que nos fazem crer e que se propala em muitas publicações maçônicas. Foi uma Ordem que se sobrepôs à outra, adotando seu nome, seus costumes, suas lendas, suas alegorias, seus sinais, suas palavras, aproveitando sua estrutura já pronta, porem modificando-a quase que totalmente e revestindo-a de valores simbólicos modificados.
Os maçons se reuniam em tabernas, cervejarias, hospedarias e nos adros das igrejas. Não existiam templos. Estes locais de encontro tinham mais uma função social e de comemoração. O primeiro templo (Freemason’s Hall) só foi construído em l776 em Londres. Aliás, este templo foi ornamentado com as cinco Ordens de Arquitetura, de inspiração do grande escritor e o primeiro professor de Maçonaria, o inglês Willian Preston, tido como o primeiro maçom a dar o sentido simbólico às ferramentas de pedreiro, ligadas à construção, tal qual as conhecemos hoje.
A Maçonaria caminhava neste trajeto, se transformando dia a dia com o mundo também se modificando e evoluindo. Na Inglaterra que foi o berço da Maçonaria Moderna existia uma famosa cervejaria “O Ganso e a Grelha”, onde se reuniam os franco-maçons. Inicialmente esta Corporação só constituída por profissionais de ofício, a partir de 1703, começou a receber os “Aceitos” indistintamente de todas as classes sociais, fazendo com que houvesse uma profunda reforma na organização. Um dos líderes dos “Aceitos” o pastor protestante Desagulliers conseguiu reunir quatro confrarias cujos nomes soam um tanto estranhos para nós, no nosso tempo, tais como a “Macieira” a “Coroa” a já conhecida “O Ganso e a Grelha” e o “Copázio (Taça?) (14) e as Uvas”. Estas quatro corporações no dia 24.06.l7l7 se reuniram e fundaram a Grande Loja de Londres, surgindo daí o sistema de submissão a um Grão- Mestre que hoje conhecemos muito bem. Criaram assim a primeira Potência ou Obediência maçônica no mundo. Havia até então apenas dois graus, sendo que em 1725 foi criado o grau de Mestre finalmente incorporado nos Rituais a partir de 1738. E a recém inventada Lenda de Hiran levaria muitos anos para se consolidar e ter a versão que tem hoje, que, aliás, é a definitiva.
Inicialmente a Grande Loja de Londres não foi bem aceita na Inglaterra.
A partir deste ponto a Maçonaria seguindo a libertação que o Século das Luzes trouxe ao mundo, foi um verdadeiro cadinho de experiências culturais e ritualísticas dentro da Ordem.
A Inglaterra ordeira e rígida em suas tradições manteve como mantém até hoje apenas os três graus simbólicos, a França como o seu perfil latino e ousado proporcionou uma enxurrada de graus, criando os Graus Superiores, e alem dos ritos tradicionais, criou uma série de outros ritos, alguns exóticos e mágicos. A Alemanha e outros países inicialmente acompanharam a França neste festival de graus e ritos, porem a Alemanha depois resolveu enxugar e expurgar o que tinha de exagero.
De qualquer forma neste século foi criada a base da Maçonaria Moderna ou Especulativa tal qual conhecemos hoje a partir da Maçonaria Operativa. Abordar o estudo de uma Instituição como a Maçonaria não é fácil. Ela é a pátria das contradições e dos paradoxos. Ela não é uma religião, muito embora muitos Irmãos pensem que ela o seja, e ainda para confundir ela se reúne em templos já que os mesmos dão idéia de igreja. Ela ensina o maçom a crer num Ente Superior, na imortalidade da alma e propaga que não é dogmática. Mas ela é dogmática sim, pois exigindo que o maçom creia no GADU, já é um dogma. Mas também aceita o Rito Moderno ou Francês que aboliu a Bíblia e qualquer citação do GADU em suas sessões. Sua intenção foi muito boa, pois deixa o maçom à vontade como livre pensador para buscar suas respostas existenciais.
Ela adotou o modelo republicano, que, aliás, ajudou a criar e lutou por ele, contendo os três poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, funcionando como se fosse um pais dentro de outro, porem, sem território. Mas onde deveria existir uma democracia plena, onde as constituições das Potências deveriam democraticamente ser obedecidas, freqüentemente com raras exceções, são manipuladas por uma cúpula, que exerce um poder monárquico e despótico. A hipocrisia, a ganancia de poder, os falsos lideres, a mentira pairam em nossa Ordem atualmente É claro que é uma minoria, mas é uma minoria muito atuante, porque os bons maçons numa atitude que chega a ser covarde se calam.
Temos inúmeros templos ociosos nas cidades onde existem mais de quatro ou cinco Lojas. Cada Loja quer ter o seu templo, onerando os Irmãos, quando poderiam se reunir várias Lojas num mesmo templo e usar o potencial de uma nova construção para uma entidade assistencial, ou escola.
Não temos a representação política que deveríamos ter. Nossas sessões estão anacrônicas e desatualizadas. Num mundo competitivo onde a instrução e a informação tem um valor absoluto de sobrevivência das instituições, uma sessão maçônica que dura em média duas horas, com a quase totalidade de sua duração gasta em problemas administrativos de pouca importância, relega a instrução e a informação a respeito da Ordem a um segundo plano, quando ela deveria tomar todo tempo que assim é perdido, com assuntos de interesse tais como filosofia, história, ritualística liturgia, legislação, estudo da Política e do Bem Social como ciência etc.
A Maçonaria Contemporânea fragmentou-se em inúmeras Potências ou Obediências cada qual se proclamando autônoma, legítima, verdadeira, regular e legal sendo que o relacionamento entre elas é muito complexo e chega até ser estranho, visto que o valor imensurável que dão a um fator chamado regularidade escapa à análise lógica e coerência de um maçom inteligente, servindo esta malfazeja regra de um complicador no relacionamento fraternal destas Potências entre si. Felizmente as lojas-bases entenderam que o caminho não é bem esse e todos os maçons se recebem e se abraçam como verdadeiros Irmãos, as vezes ignorando determinações superiores. Atualmente as potencias ditas regulares estão se achegando mais, mas isto não está escrito num tratado. É uma situação de fato.
Felizmente, talvez por obra e graça do Grande Arquiteto do Universo a Essência da Iniciação, ou seja, a mensagem iniciática que envolve todo o maçom permaneceu intata, apesar dos rituais de um mesmo rito serem diferentes na mesma potência ou em potências diferentes. Permaneceu o sentido iniciático.
Alguma coisa realmente na Maçonaria parece que deu certo, uma delas é o seu ecletismo, outra é o respeito que os Irmãos nutrem entre si, quer como fraternos, quer em suas idéias, respeitando assim os princípios da Dialética em que, mesmo não concordando com elas, aceitam ouvi-las e analisá-las, porem desde que fiquem tão somente no campo das idéias, porque se tratar da disputa de poder maçônico, muda-se completamente o paradigma, chegando até respeitáveis Irmãos aos mais baixos degraus das provocações mútuas, especialmente quando este poder atinge a vaidade de cada um.
A Maçonaria tem dois tipos básicos de adeptos, os místicos e os documentais. Ambos se respeitam mutuamente, porem divergem entre si, com relação ao fato dos maçons documentais se basearem em documentos antigos e autênticos, nas fontes primárias de pesquisas, e também na lógica enquanto que os místicos têm outra linha de pensamento totalmente baseada no esoterismo, alguns até exagerando e se tornando mistificadores.
No Brasil temos uma Maçonaria pobre e somos completamente amadores quando desejamos tratar de filantropia. Já os EE. UU. administram muito bem esta parte, mantendo hospitais, asilos e entidades filantrópicas etc.
Enquanto na Inglaterra a principal atividade da organizada Maçonaria Inglesa é o encontro fraterno, o “clubing” que os ingleses tanto adoram na França a Maçonaria é francamente político-social, no Brasil na grande maioria de suas Lojas é um misto de esoterismo, gnosticismo, cabala alquimia, e religião, onde lendas, crendices, enxertos, invenções e “achismos” fazem parte de um sincretismo que tornam a Ordem diferente de outros países, esquecendo-se que a maior meta da Maçonaria, além da formação intelectual e espiritual do maçom é a de transforma-lo num construtor social.
Ao enfocar a Ordem desta maneira, não estamos tentando denegri-la. Pelo contrário, estamos dando um brado de alerta, pois precisamos acordar e nos adaptar ao século que estamos vivendo, onde os progressos científicos, culturais e sociais estão influindo em todas as Instituições, e que quem não se redimensionar não sobreviverá.
A Maçonaria tem a necessidade urgente de procurar adaptar-se a um novo modelo, pois poderá correr o risco de não sobreviver nos próximos cem anos, o que em realidade não acreditamos que aconteça, pois ela já passou por crises importantes, mas sempre teve a felicidade de ser salva por maçons notáveis, de mentes claras transparentes e inteligentes que acudiram a Ordem em tempo. Estamos aguardando a volta destes Guardiões.
Que venham logo...
NOTAS.
(01) Primórdios, início, idéias iniciais de agrupamentos de profissionais da construção.
(02) Mestres da construção e operários reconhecidos por éditos reais.
(03) Termos usados atualmente nas Lojas para designar o Mestre da Loja, o Venerável, ou mesmo tratamento entre Irmãos.
(04) Maçonaria de São João, Santo Padroeiro como hoje é conhecido oficialmente, possuía na Maçonaria Operativa inúmeros santos protetores.
(05) Teobaldo Varoli Filho os considera como ancestrais da Maçonaria Operativa.
(06) Juramento, parte integrante da ritualística maçônica atual.
(07) Importância que todo novo adepto paga ao ser admitido na Loja.
(08) Refere-se atualmente ao “Tronco das Viúvas” conhecido como Tronco de Solidariedade.
(09) Loja. Do germânico leubja, do francês, lodge. Local onde se reúnem os Irmãos.
(10) A Maçonaria atual se reúne também em almoços, jantares, e banquetes, aliás, existe até o Banquete Ritualístico, criação do Rito Francês ou Moderno.
(11) Oficialmente os Steinmtzer criaram na Convenção de Etrasburgo os toques, sinais e palavras. Todavia, sabemos que toda Corporação tinha a sua própria maneira de se reconhecer.
(12) Franco-Maçonaria, a verdadeira Maçonaria Operativa, que serviu de base à Maçonaria Moderna tal qual a conhecemos.
(13) As demais Corporações também exigem um cerimonial próprio para a recepção do novo adepto. Acresça-se que a Maçonaria atual enriqueceu a cerimônia com procedimentos de forte caráter simbólicos, espirituais e culturais tentando induzir o novo adepto a descobrir o seu duplo EU.
(14) “Copázio e as Uvas” (copo grande, coparrão copaço) parece ser a tradução mais adequada de “Rummer and Grappes” que o termo usadíssimo na Ordem, “taça” Imaginem aqueles rudes franco-maçons ingleses, naquelas tabernas às tardes após o árduo e suado trabalho diário, tomando suas bebidas em taças? É pouco provável.
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REFERÊNCIAS:
CARVALHO, Francisco A. O Aprendiz Maçom
Editora Maçônica “A Trolha” Ltda.
Londrina-PR – 1995
CASTELLANI, José A Ciência Maçônica e as Antigas Civilizações
Editora Resenha Universitária
São Paulo SP - 1977
CONCEIÇÃO Eleutério N. – Maçonaria – Raízes Históricas e Filosóficas
Editora O Prumo - 2ª ed.
Florianópolis SC – 2006
PETERS, Ambrósio Maçonaria – História e Filosofia
Editora Núcleo
Florianópolis SC - 1998
VAROLI, Teobaldo Fº Curso de Maçonaria Simbólica – l.º Grau
Editora A Gazeta Maçônica S.A.
São Paulo SP - 1970
SALMO 133
“OH! COMO E BOM E AGRADAVEL VIVEREM UNIDOS OS IRMAOS!
E COMO O OLEO PRECIOSO SOBRE A CABECA, A QUAL DESCE PARA A BARBA,
A BARBA DE ARAO E DESCE PARA A GOLA DE SUAS VESTES.
E COMO O ORVALHO DO HERMON, QUE DESCE SOBRE OS MONTES DE SIAO.
ALI ORDENA O SENHOR A SUA BENCAO E A VIDA PARA SEMPRE.”
De um lado o espírito – o compasso - de outro o corpo - o esquadro, e no meio o homem,
plenamente harmonizado consigo mesmo, com os demais semelhantes, com a natureza
(a terra) como Principio Criador. O óleo, o homem, o monte a água formam os símbolos
e alegorias, que nos levam a entender o significado da real união entre homens que se
definem como irmãos.
Caros IIr.'.
Pensamento maçônico internacional, onde diz: - para se unirem basta seguir os rituais centenários da maçonaria e serem verdadeiros maçons.
A Maçonaria somos nós, e ela somente será grande se nós formos pessoalmente grandes. Não esperamos encontrar na maçonaria o que não encontramos dentro de nós mesmos. Nada poderá ser maior do que a soma da grandeza de seus componentes.
(Extraído do livro: Antologia Maçônica de Ambrósio Peters)